Representações da Natureza e do Homem em “Terra Caída”: a narrativa de Alberto Rangel sob o olhar da ecocrítica
Palavras-chave:
Representação, Estudos Culturais, Ecocrítica, Amazônia, Literatura BrasileiraResumo
Este estudo pretende compreender de que modo se constroem as representações discursivas sobre natureza e homem no conto Terra Caída, de Alberto Rangel. Para tanto, este trabalho, para além de recorrer a uma abordagem qualitativo-interpretativista bidirecional (dedutiva-indutiva), emprega concepções representacionais postuladas por Hall (2016) e princípios de ecocrítica introduzidos por Naess (1995), Easterlin (2012) e Nayak (2022), dentre outros. Resultados preliminares sugerem que Rangel, embora apresente ainda resquícios de um naturalismo, distancia-se de atributos desse movimento estético para oferecer uma concepção sensivelmente própria às noções de natureza e humanidade cabocla. Nesse sentido, Rangel projeta uma espécie de realismo mágico-penoso bastante particular, em que utópico e soturno se imbricam e se retroalimentam. Meio ambiente e homem se correlacionam em um jogo de forças ou poder que vai estabelecendo papeis determinados para cada um deles, mediados, evidentemente, pelas condições de sua existência material. Para além de recorrer à ideia de trabalho como instrumento de redenção e sublimação da moralidade cabocla, é no contraste com a pertinácia da natureza, ou com sua implacabilidade, que a fibra de caráter do homem-caboclo se tece e se consolida.
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