Práticas de escrita e mediação docente no ensino de gêneros textuais: questões sobre a resistência na escrita do gênero memórias literárias
Palavras-chave:
Olimpíada de Língua Portuguesa, Gêneros Textuais, Escrita, ResistênciaResumo
Neste artigo pretendemos colocar em discussão a escrita do gênero textual “Memórias Literárias”, proposto pela Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro para os estudantes do 6º e 7º anos do Ensino Fundamental, recortando-se a questão de que algumas produções não apresentam as características específicas do gênero. Para alcançar nosso objetivo, apoiamo-nos no conceito psicanalítico de resistência, dando destaque para a resistência que o estudante opõe à escrita do gênero em questão. Desse modo, trata-se de uma pesquisa qualitativa cujo objeto de análise consiste em um texto de memórias escrito por uma aluna do 6º ano do Ensino Fundamental, de uma escola da rede pública de Pernambuco. Os resultados apontaram que a resistência que o estudante opõe à escrita do gênero memórias literárias tem relação com a transferência, isto é, o sujeito-aluno ao ser convocado a escrever a respeito de eventos que implicam na recuperação de lembranças de episódios vividos, transfere para o texto suas próprias memórias, o que nos leva a compreender que por trás do que é produzido como texto há o que o sujeito-aluno não sabe que diz, mas que diz o que quer dizer, ou seja, há no dizer do sujeito o não-dito e o mais-além do dizer, que as muitas funções da palavra sustentam.
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