A ciência para além da razão: um dever de reflorestamento espiritual e decolonial
Palavras-chave:
Espiritualidade, Ciência, Monocultura, ReflorestamentoResumo
A falência da Igreja durante a Idade Média fomentou um divórcio insuperável entre ciência e religião, fazendo com que a primeira delas negasse e se afastasse de quaisquer pensamentos que tocassem ou beirassem a primeira, seja ela como fosse. A Europa, que outrora impunha seu catolicismo sobre os povos colonizados, começou a impor suas noções epistemológicas sobre eles, rivalizando saberes e tanto hierarquizando-os quanto dicotomizando-os, determinando a si mesma como referência de um padrão. Foi assim que a ciência se estabeleceu ao longo da história como uma instituição de epistemologia única: branca e europeia, desde a classificação histórica que gira em torno da Europa até o racismo epistêmico que desqualifica, anula e extermina tudo aquilo que não se vê no espelho. Este ensaio investiga a lógica de monocultura colonizadora que avançou das terras às mentes, cuja produção de conhecimento tem a razão como plantio e a devastação de espiritualidades como prática que a possibilita funcionar. Diante desse funcionamento colonizador, os povos indígenas e as conexões cósmicas ficam à margem daquilo que foi dado como centro e topo, por não atenderem aos critérios europeus de objetividade para então serem considerados como válidos. Essa marginalização decorre em instrumentalizações da natureza, em destruições que devastam terras e corpos, em colonizações de modos de pensar e existir. Em aliança com filosofias originárias e ancestrais, cultivadas por pensadores como Ailton Krenak e Célia Xakriabá, este ensaio experimenta conexões cósmicas e reflorestamentos espirituais em meio ao inóspito fazer científico, compreendendo essa mobilização como um dever urgente e decolonial de reflorestamento.
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