O racismo estrutural e as condições do trabalho análogo à escravidão entre indígenas no Brasil: aspectos históricos e atuais
DOI:
https://doi.org/10.47694/issn.2674-7758.v4.i13.2023.95115Keywords:
Povos indígenas. Racismo estrutural. Trabalho análogo à escravidãoAbstract
O racismo estrutural tem suas raízes no colonialismo e se mantém através da colonialidade do poder por meio da dominação e violência a povos considerados inferiores com base na hierarquia racial eurocêntrica. O mercado de trabalho assalariado brasileiro não absorveu as vítimas dessa estrutura e muitas delas se submetem ou são aliciadas a trabalhos precários, com jornadas exaustivas e sem condições mínimas para viver, como é o caso dos povos indígenas. Neste sentido, este artigo analisa o trabalho análogo à escravidão imposto a indígenas no Brasil a partir da noção de racismo estrutural, realizando um percurso narrativo panorâmico que vai da história do escravizado indígena no Brasil Colônia e Brasil Império à atuação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) na tutela e escravização do indígena na contemporaneidade, além de localizar o indígena como mão de obra explorada no mercado de trabalho assalariado brasileiro na atualidade. Para tal propósito, examinamos dados históricos e recentes do trabalho análogo à escravidão no Brasil. Entende-se que os povos originários vivem na periferia do capitalismo por consequência do racismo estrutural que atua na divisão racial do trabalho, normalizando o trabalho informal e a exploração da mão de obra desses grupos que, por consequência, acabam sendo excluídos socialmente e juridicamente e terminam enfrentando dificuldades para satisfazer necessidades humanas básicas ou escapar do racismo estrutural constatado historicamente também no mundo do trabalho.
Downloads
References
ALMEIDA, Sílvio de. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.
ALVES, Leonardo Dias. A divisão racial do trabalho como um ordenamento do racismo estrutural. Revista Katálysis. Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 212-221, mai./ago. 2022.
BARBOSA, Rodrigo Lins. O Estado e a questão indígena: crimes e corrupção no SPI e na FUNAI (1964-1969). 2016. 261 f. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal de Pernambuco, Recife.
BRASIL. Carta Régia de 12 de maio de 1798. Disponível em: <https://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/2018- 04/A_carta_regia_de_12_de_maio_de_1798B.pdf> Acesso em: 15.jan.2023.
BRASIL. Decreto-lei no 10.803, de 11 de dezembro de 2003. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.803.htm>. Acesso em: 21. fev.2023.
BRINGMANN, Sandor Fernando. Entre os índios do Sul: uma análise da atuação do SPI e de suas propostas de desenvolvimento educacional e agropecuário nos Postos Indígenas de Nonoai/RS e Xapecó/SC. 2015. 452 f. Tese (Doutorado em História). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
BRITO, Carolina Arouca Gomes de. Antropologia de um jovem disciplinado: a trajetória de Darcy Ribeiro no Serviço de Proteção aos Índios (1947-1956). 2017. 239 f. Tese (Doutorado em História). Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.
CARVALHO, Reinaldo Forte. “O Diretório Pombalino”: legislação e liberdades indígenas na capitania do Siará Grande. Revista Sæculum. João Pessoa, v. 26, n. 44, p. 455-472, jan./jun. 2021.
CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO. Em meio a pandemia, indígenas são resgatados de trabalho escravo no MS. Disponível em: <https://cimi.org.br/2020/07/em-meio-a-pandemia-indigenas-resgatados-trabalho-escravo-ms/ > Acesso em: 04.jan.2022.
CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO. MPF/SC denuncia trabalho escravo envolvendo indígenas. Disponível em: <https://cimi.org.br/2009/08/29126/> Acesso em: 04.jan.2022.
COSTA, D. V. A. Florestan Fernandes: luta de raça e de classes. In: FERNANDES, F. O significado do protesto negro. São Paulo: Expressão Popular; Perseu Abramo, 2017.
FREIRE, José Ribamar Bessa; MALHEIROS, Márcia Fernanda. Aldeamentos Indígenas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Programa de Estudos dos Povos Indígenas - Departamento de Extensão UERJ, 1997.
MENDONÇA, M. Carneiro de. Raízes da formação administrativa do Brasil. Rio de Janeiro: IHGB /Conselho Federal de Cultura, 1972.
MONGABAY. Em duas décadas, mais de 1.600 indígenas foram encontradas em situação de escravidão no Brasil. Disponível em: <https://brasil.mongabay.com/2022/07/mais-de-16-mil-indigenas-foram-encontrados-em-situacao-de-escravidao-no-brasil-em-menos-de-duas-decadas/> Acesso em 15.jan.2023.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Perfil dos principais atores envolvidos no trabalho escravo rural no Brasil. Brasília: OIT, 2011.
PEREIRA, Camila Mendonça. Abolição e catolicismo: a participação da Igreja Católica na extinção da escravidão no Brasil. 2011. 141 f. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal Fluminense, Niterói.
PORTAL FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Qual o efeito da pandemia sobre o mercado de trabalho? Disponível em: <https://portal.fgv.br/artigos/qual-foi-efeito-pandemia-sobre-mercado-trabalho>. Acesso em: 25.mar.2023.
RELATÓRIO FIGUEIREDO. Processo nº 4.483/1968. v. 09, f. 1720. Disponível em: <http://janetecapiberibe.com.br/images/documentos/Rel%20Figueiredo%20vol%20IX.pdf > Acesso em 05.dez.2022.
REPÓRTER BRASIL. Força-tarefa liberta 41 indígenas de trabalho escravo no Rio Grande do Sul. Disponível em: <https://reporterbrasil.org.br/2012/11/forca-tarefa-liberta-41-indigenas-de-trabalho-escravo-no-rio-grande-do-sul/> Acesso em: 20.jan.2023.
RIBEIRO, Darcy. A política indigenista brasileira. Rio de Janeiro: Edições SIA, 1962.
_____. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno. São Paulo: Global Editora, 2017.
SILVA, António Delgado da. Collecção da Legislação Portugueza – desde a última Compilação das Ordenações – Legislação de 1750 a 1762. Lisboa: Typografia Maigrense, 1830.
SOUZA LIMA, Antônio Carlos. Um Grande Cerco de Paz: Poder Tutelar, Indianidade e Formação do Estado no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.
SUCHANEK, Márcia Gomes O. Povos indígenas no Brasil: de escravos à tutelados. Uma difícil reconquista da liberdade. Confluências. Niterói, v. 12, n.1, p. 240-274, out. 2012.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade de poder, eurocentrismo e América Latina. Livro: Colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Edgardo Lander (org). Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina: Colección SurSur, CLACSO, 2005.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.