Rússia, Ucrânia e União europeia: a construção da memória dos regimes autoritários do século XX e os limites da “justiça de transição”

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Lúcio Geller Junior
https://orcid.org/0000-0001-8879-4877

Resumo

Este artigo tem como objetivo refletir sobre a relação entre a memória e a justiça transicional frente ao passado dos regimes autoritários europeus do século XX. A primeira parte consiste na análise, de um lado, de um conjunto de discursos e medidas memoriais de duas ex-repúblicas soviéticas, Rússia e Ucrânia; e, de outro, da repercussão destas entre a União Europeia e entidades afins, bem como resoluções em reação ou concordância. A segunda parte defende que as interações observadas na análise anterior resultam dos limites do conceito de “justiça de transição” no espaço pós-soviético. Para tanto, reconstitui a historicidade deste através de iniciativas institucionais de revisão do passado adotas durante o período soviético, pela Perestroika. Com o propósito de situar historiograficamente os casos estudados, o artigo começa pelas discussões sobre regimes de historicidade e memória que os permeiam.

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Como Citar
GELLER JUNIOR, L. Rússia, Ucrânia e União europeia: a construção da memória dos regimes autoritários do século XX e os limites da “justiça de transição”. Escritas do Tempo, v. 4, n. 12, p. 55-79, 26 dez. 2022.
Seção
v. 4 n. 12 (2022) Dossiê: De Norte a Sul, a sombra do autoritarismo
Biografia do Autor

Lúcio Geller Junior, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sob orientação da Profa. Dr. ª Regina Weber. Graduado em Licenciatura em História e atualmente bacharelando pela mesma instituição. Membro do Grupo de Pesquisa "Identidades étnicas e racismo", na linha de "Imigração e identidades étnicas". Atua na área de História Oral, Relações de Gênero e Sexualidade e Memória pós-soviética, na linha de pesquisa de Cultura e Representações. 

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